quinta-feira, outubro 19, 2006
Escrito por Green Tea em quinta-feira, outubro 19, 2006

Eis que não entendo...
Venho a Évora dar uma aula a miúdos do 4º ano da licenciatura. Dizem-me, contrariados, que estão em luto académico, segundo apurei, não estão reunidas as condições para "Bolonha".
Bolonha!?!?! Já não posso ouvir falar de Bolonha, de ir a reboque da Europa neste aspecto, em que tudo fica na mesma, só de cara lavada, mas na mesma. Porque os EUA têm cursos 3+2, a França também, e Portugal tem de apanhar o comboio! Para haver migração de alunos e docentes.
Uma ova. Com 3 anos quem é que sabe ser seja o que fôr? Sai-se das faculdades com 5 anos de licenciatura a saber fazer: zero. Sabe-se muita coisa, saber fazer é outra conversa... então com 3 anos, melhor ainda! Acabam com os bacharelatos para quê, mesmo? Mudar o nome, o cheiro é o mesmo.
E quem prossegue a carreira académica? Estuda 7 anos para ter o mesmo grau que alguém que estudou 5? E porque não, igualdade para todos. Oportunidades de (des)emprego para todos!!
E os meus alunos queixam-se ... apesar de estarmos em meados de Outubro e ainda haver praxe nestas bandas.

Vão dar uma curva com Bolonha. Só tenho pena de já estar na fase de não adiantar refilar, tenho é de pensar como lidar com isto.
Queixem-se sim ... acho muito bem! Não vão às aulas! E ao fim de 3 aninhos, a ver se tudo somado, chegam a ter um ano completo de aulas.
(Évora é linda)

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3 Comentários:


Em 3:44 da tarde, Blogger Lígia Mendes

Olá, querida Ana! Primeiro que tudo, parabéns por mais esta óptima iniciativa e aproveito para deixar já a minha opinião, ainda que esta, como sabes, seja de alguém que não vive em Portugal.
Sinceramente, não vejo o grande problema de Bolonha, a não ser para aqueles que estudaram mais anos e vêem agora os seus cursos reduzidos a 3 anos. De qualquer forma, como dizes, não se sabe nada ao fim de 3 anos de Universidade, assim como não se sabia ao fim de 5. Afinal, será que o problema se encontra realmente no número de anos de estudo? O verdadeiro problema, na minha opinião, encontra-se nas ofertas de emprego, no acesso ao ensino superior, na formação e acompanhamento dado aos estudantes. O número de anos acaba por ser irrelevante em termos práticos, a não ser a possibilidade que é dada aos estudantes estrangeiros de serem aceites nas faculdades portuguesas, o que é sempre uma mais valia, se criadas as condições para tal. Talvez a uniformização com países mais desenvolvidos ensine algo a Portugal... Manifestações não vão resolver o problema de base, assim como este não se chama certamente Bolonha...

 

Em 4:50 da tarde, Anonymous Anónimo

Olá Lígia, é bom ver-te aqui :)

Claro que o problema não se encontra no número de anos de estudo. Isso seria simplificar as coisas a um reducionismo cego, claro. A questão, no meu ver e dada a minha situação, é saber que daqui a um ano estarei em "igualdade" com pessoas que passaram por um percurso mais pequeno. Nada de mal, se esta igualdade não se espalhar ainda para as ofertas de emprego. Aí não me parece de todo justo, e claro que puxo a brasa à minha sardinha.
Por outro lado, claro que as pessoas que agora se vêem com uma licenciatura em menos anos ficam felizes. Está estipulado que não poderão exercer, mas alguém fiscalizará isso? Na minha área a resposta é negativa, e isso é alarmante!
Assim, estudam mais uns dois anos e exercem ... e se concorrem a lugares públicos estão nas mesmas condições que alguém que estudou mais uns tempos.
Claro que as manifestações não vão a lado nenhum. É preciso exigir mais dos alunos, porque infelizmente, tanto no ensino público como no privado, cada vez mais há menos acompanhamento e fornecimento de oportunidades a sério.
Enfim ... são só ideias, e é a discuti-las que chegamos a algum lado ;)

 

Em 6:51 da tarde, Blogger Lígia Mendes

Claro e, por isso, é que este teu espaço é muito interessante :) Como disse, de facto, só vejo inconveniente para os alunos que estudaram mais anos. No entanto, as oportunidades de trabalho são tão escassas que, mais uma vez, penso que seria nisso que deveriam apostar as manifestações, se é isso que os estudantes querem fazer. Sei que o mundo do trabalho, na situação em que está actualmente, é a guerra de todos contra todos, ou melhor, de 7 cães a um osso e essa tem de ser a grande aposta das medidas urgentes a tomar. Se, a par disso, forem criadas condições para o acompanhamento e melhor integração dos estudantes no mundo activo, viva Bolonha! ;)