Há uns anos, para mais de dez, tive aulas de teatro. Sempre fora um "bichinho cá dentro", e na altura justificava-se. Eram aulas gratuitas, no Auditório Carlos Paredes, em Benfica (regressei lá esta semana, por motivos completamente diferentes). À 3ªa e 5ª, religiosamente, apanhava o 50 e ia toda contente, para duas horas de experimentação pura, aprendizagem, relaxamento, convívio, tudo. Recordo que o meu professor um dia nos pediu para passarmos a hora e meia inicial a desenvolvermo-nos numa cela. Não nos deu pistas. Eu imaginei a minha cela muito alta, mas estreita, como se tivesse um metro quadrado e a janela, com barras, estivesse tão alta que da luz apenas me chegava um vislumbre. Éramos para cima de dez pessoas, em cima de um palco risivelmente pequeno. Nunca consegui descrever muito bem o que ali se passou, mas ganhei um respeito imenso à arte de representação, porque eu garanto que estive naquela cela, sufoquei, cresci, e aprendi muito.
Meses mais tarde, a tarefa foi a de preparar um monólogo, e escolhi a ladaínha dos póstumos natais (ide procurar, se não conheceis), com esta música de fundo:
Meses mais tarde, a tarefa foi a de preparar um monólogo, e escolhi a ladaínha dos póstumos natais (ide procurar, se não conheceis), com esta música de fundo:
É esta música que hoje me apetece dedicar ao meu professor de teatro. Soube-se hoje que sofre de cancro no pâncreas, e que ainda assim, vai manter a agenda até ao limite. Suba-se o pano, que se encena a arte da vida.